sexta-feira, 11 de abril de 2014

"Cai a folha, o fruto, o dente, a chuva.
Surge o tesão, as espinhas, a menstruação, o verão.
Crescem o peitinho, a ansiedade, os jeitinhos e as opiniões.
Mudam as formas, o clima, o corpo, as estações.
Passam as horas, os dias, alegrias e expectativas.
Passa o choro de ontem, a ilusão de anteontem, o amor que se mostrava eterno no ano passado.
Passa a chuva e o cal...or.
A compulsão de comer chocolate,
Assistir àquele filme, ir para a balada esta noite, ficar com o gatinho que parecia especial, também passa.
Passam certas necessidades a serem colocadas a limpo.
As qualidades, os defeitos, as metas e planejamentos para o próximo ano, são passados para a agenda nova.
...Urge ir à praia, comprar biquíni novo, experimentar o bronzeador cor de mate, tomar um chope geladíssimo na hora do almoço.
Urge também criar coragem e se declarar para o professor de anatomia. Dizer poemas em voz alta para Manoel de Barros, abraçar em sonhos os caleidoscópios de Fernando Pessoa, as reflexões de Drummond, as delicadezas transparentes de Mário Quintana.
...Anoitecem as verdes querências, as antigas indulgências, as compulsões pelos porres e as ressacas.
As inconsequências, saudosas irresponsabilidades, a certeza de que o universo é infinito, porém menor que a estupidez humana.
...Descobre-se, por fim, a sabedoria embutida no verbo crescer.
Nos imprescindíveis desapegos diários.
Nas despedidas de hábitos inúteis, situações e pessoas.
Porque afinal constata-se que crescer também é um pouquinho isso: ir dizendo adeus para as coisas."









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