quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

As fobias são, precisamente, maneiras de se proteger contra a angústia

Por Mariana Anconi
A questão das (psico)patologias na contemporaneidade envolve aspectos muito mais complexos que a própria subjetividade humana em si, neste caso, abrange sintomas produzidos socialmente, condizentes com dilemas atuais vividos na sociedade, principalmente relacionados ao corpo e imagem. As subjetividades contemporâneas caracterizam-se pelo apagamento da alteridade, reduzindo o homem à dimensão da imagem.
As formas de padecimento não são inéditas, mas integram e denotam ideais predominantes na contemporaneidade: a exaltação sem medida de si mesmo e da existência como imagem estética. No consultório, é cada vez mais frequente queixas de pacientes relacionadas a dificuldade em atender os padrões exigidos/impostos na sociedade, tendo como efeito crises de ansiedade e/ou angústia, em outros casos, desencadeando a sintomatologia do pânico, por exemplo, considerada uma das expressões do mal estar na atualidade.
Deve-se considerar a estreita relação da angústia com as fobias. Nelas, o sujeito tenta de todas as formas se livrar da angústia ligando-a a uma situação ou objeto específico que passa a ser evitado sempre que possível. As fobias são, precisamente, maneiras de se proteger contra a angústia. Parece algo contraditório, mas para o psiquismo é melhor temer algo que se sabe (medo de altura, por exemplo), para poder evitá-lo, do que não saber e não poder se defender.
O ponto chave dessa questão é: A angústia indica uma forma de medo generalizado, sem um objeto específico, sem nome, indefinido. Assim, desenvolvendo uma fobia, o medo torna-se localizável e é possível ao sujeito tentar evitá-lo afastando-se do objeto temido. Na clínica: pacientes nos procuram angustiados, mas não sabem por qual motivo, não fazem ideia do que os angustia. Quando têm ataques de pânico, não sabem porque motivo ficam assim ou o que desencadeia a crise.
Antes de priorizarmos a importância do trabalho da escuta analítica, há de se cautela para algumas vertentes “biologizantes” do discurso psiquiátrico que não reconhecem essas patologias para dotá-las de uma escuta do sujeito – muito ao contrário, com o apoio crescente da indústria psicofarmacológica – trata-se de tentar apagá-las, ignorando o fato de que a angústia é parte daquilo que faz o homem propriamente humano.
Não se trata aqui de uma crítica a psiquiatria em geral, pois é inegável o benefício dos medicamentos na vida destes pacientes, na medida em que amenizam os sintomas que chegam a ser terríveis, desesperadores e por vezes incapacitantes, como uma pessoa quando não consegue sair de casa para trabalhar por medo; mas é fundamental que o paciente não deposite apenas no remédio a reorganização de sua vida, pois a medicação em si apaga o sintoma, mas não promove transformação do sujeito.
No campo da escuta analítica, a psicanálise é a única que não evita a angústia, ela possibilita ao sujeito uma escuta que tem por efeito dar-lhe a chance de suportar sua angústia para, então, atravessá-la e chegar ao desejo. O atravessamento é diferente do evitamento, ele se dá no processo analítico, o paciente passa a se implicar no seu sofrimento, a se questionar sobre o que acontece com ele, a falar, a procurar dar sentido, a partir da sua história, ao que parece não ter sentido. Procura-se criar com o paciente condições para que ele possa subjetivar a condição de desamparo.


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